No Japão, o debate sobre a sexualização da mulher nos animes tem gerado polêmicas nos últimos anos. O jornal japonês Daily Shincho analisou essa questão em um artigo, levantando a hipótese de que muitas das mulheres que reclamam das ilustrações sexualmente sugestivas de garotas de anime são, na verdade, fujoshis, ou seja, mulheres que consomem avidamente conteúdo yaoi, que retrata relações homoafetivas masculinas.
A polêmica em torno da sexualização nos animes
Em 2020, a comunidade de mulheres feministas no Japão criticou uma ilustração de “Love Live! Sunshine!!” por considerarem que a saia da personagem focava de maneira inadequada em sua virilha. No mesmo ano, o coletivo feminista se indignou quando a Polícia da Prefeitura de Chiba colaborou com um Vtuber para produzir um vídeo educativo, que foi considerado sexualizado e posteriormente excluído.
Em 2021, o projeto “Onsen Musume” também foi alvo de críticas por parte do coletivo feminista, que considerou que as garotas que promoviam resorts de águas termais eram sexualizadas. No ano seguinte, Kanako Otsuji, ex-membro da Câmara dos Representantes do Partido Democrático Constitucional do Japão, reclamou de um anúncio de videogame que utilizava uma ilustração de uma garota de anime vestida de coelhinha, questionando o uso de mulheres sexualizadas na publicidade.
A contradição das fujoshis
De acordo com a investigação do Daily Shincho, muitas das mulheres que criticam a sexualização das personagens femininas nos animes são, na verdade, fujoshis. Essas mulheres compartilham comentários negativos sobre ilustrações que mostram garotas fofas de anime com pouca roupa, mas ao mesmo tempo demonstram um grande apoio a conteúdos yaoi, que são muito mais explícitos em relação ao teor sexual.
O termo “fujoshi” é utilizado para se referir às mulheres que são fãs de mangás e animes com temática homoafetiva masculina. Elas consomem avidamente esse tipo de conteúdo e se envolvem nas comunidades online que o discutem. Essa contradição entre criticar a sexualização das personagens femininas e apoiar o conteúdo yaoi revela um aspecto interessante das fujoshis.
Esse fenômeno pode ser entendido de diferentes maneiras. Algumas mulheres podem ver a sexualização das personagens femininas nos animes como uma forma de objetificação, enquanto o conteúdo yaoi é percebido como uma representação mais igualitária de relações homoafetivas. Outras podem preferir o conteúdo yaoi por se sentirem mais identificadas com os personagens masculinos.
A perspectiva das gerações mais velhas
Além das fujoshis, há também pessoas mais velhas que criticam a sexualização nos animes. Algumas dessas críticas são baseadas em questões geracionais e na dificuldade de adaptação às mudanças no estilo e conteúdo dos mangás e animes atuais.
Um exemplo é o caso de um homem na casa dos 50 anos que afirmou que “poderia perdoar o estilo de Osamu Tezuka”, referindo-se ao famoso mangaká que foi pioneiro na indústria de mangás no Japão, mas considera os designs dos animes atuais como indecentes e inaceitáveis. Esse homem se considera um fã de mangá, mas manifesta dificuldade em se adaptar aos avanços e mudanças na indústria.
A questão do interesse geral e da sensibilidade individual
Uma reflexão interessante é levantada em relação aos anúncios com garotas de anime em estações de trem. Muitas vezes, as pessoas que não têm interesse em mangá ou anime simplesmente passam despercebidas por esses anúncios e nem prestam atenção aos detalhes, como as dobras de uma saia ou a posição da personagem. A menos que estejam buscando algo para criticar especificamente, essas pessoas simplesmente olham e seguem seu caminho.
Isso nos leva a questionar se a polêmica sobre a sexualização dos animes é uma questão de sensibilidade individual ou se é algo que realmente preocupa a sociedade em geral. É possível que as mulheres que se manifestam contra a sexualização das personagens femininas tenham uma sensibilidade mais aguçada para esse tipo de conteúdo, enquanto a maioria das pessoas não se importa ou simplesmente não nota.
Essa discussão também aborda a diferença de valores e percepções entre as diferentes gerações. O que pode ser considerado aceitável ou inaceitável em termos de conteúdo erótico varia de acordo com a sensibilidade individual e com a evolução das normas sociais ao longo do tempo.
Em resumo, o debate sobre a sexualização da mulher nos animes no Japão tem gerado controvérsias nos últimos anos. O artigo do Daily Shincho levantou a hipótese de que muitas das mulheres que criticam essa sexualização são fujoshis, o que pode ser entendido como uma contradição, já que essas mesmas mulheres são ávidas consumidoras de conteúdo yaoi. Além disso, há também diferenças geracionais e de sensibilidade individual que influenciam essa discussão. Para alguns, a sexualização nos animes é uma questão preocupante, enquanto para outros é apenas mais um aspecto da cultura pop japonesa.
Fonte: Aqui!
Entusiasta geek e jornalista devota ao mundo dos animes, transmitindo sua paixão através de suas matérias