É comum nos depararmos com diversas adaptações de personagens icônicos, originários de diferentes estúdios. Essa situação pode gerar confusão, mas ocorre devido ao fato desses personagens entrarem em domínio público. Isso significa que qualquer pessoa pode criar novas histórias e releituras desses personagens clássicos, trazendo uma abordagem revigorada e moderna para o público.
Os critérios para um personagem se tornar domínio público envolvem, em termos gerais, a passagem de 70 anos após a morte de seu criador ou 95 anos após a criação, no caso de obras feitas para empresas. Essa abertura permite que diversos artistas explorem esses personagens de maneiras distintas, ressignificando suas características e narrativas de acordo com o contexto atual.
Nesta lista, reunimos 10 personagens que já estão em domínio público, possibilitando o surgimento de novas releituras e interpretações criativas. O fenômeno do domínio público abre espaço para uma ampla diversidade de abordagens artísticas, contribuindo para manter viva a relevância desses personagens ao longo do tempo.
A Eterna Relevância de Frankenstein
Considerado um dos pioneiros do gênero de horror e ficção científica, o icônico livro de Mary Shelley, Frankenstein, tem cativado leitores desde sua primeira publicação em 1818. Na trama, somos apresentados às desventuras de um cientista em sua incansável busca por driblar a morte, culminando na criação do “Prometeu Moderno”, reanimado com pedaços de diferentes cadáveres e eletricidade.
O personagem central tornou-se um símbolo do horror e da obscuridade, inspirando inúmeras adaptações e versões ao longo dos anos. No entanto, vale ressaltar que, mesmo após mais de um século após sua entrada em domínio público, o visual específico do Monstro de Frankenstein interpretado por Boris Karloff permanece sob os direitos da Universal Pictures.
Assim, a intemporalidade da história de Frankenstein é inegável, demonstrando a persistência de seu significado e o impacto duradouro que exerce sobre a cultura popular. Mesmo com diversas interpretações e reinvenções, o legado do “Prometeu Moderno” continua a ecoar em nossa sociedade, alertando-nos sobre as consequências de brincar com os limites da vida e da morte.
A Lenda do Conde Drácula
Uma das figuras mais famosas do terror é o Conde Drácula, o icônico rei dos vampiros que surgiu nas páginas do livro de Bram Stoker em 1897. Desde então, ele se tornou a personificação mais marcante quando pensamos na palavra “vampiro”.
O Conde Drácula entrou para o domínio público em 1962, permitindo que outras versões e adaptações surgissem. Um exemplo disso é Nosferatu, o filme de 1922 dirigido por F.W. Murnau, uma obra-prima do expressionismo alemão. Esta produção quase foi perdida para sempre quando a família de Stoker descobriu sobre a “imitação”.
Vampiro, Conde Drácula, terror, livro, domínio público, Nosferatu, F.W. Murnau, expressionismo alemão, plágio – todas estas palavras estão intrinsecamente ligadas à história e legado do Conde Drácula, trazendo o fascínio eterno por esta figura lendária do horror.
A saga de um icônico espião britânico em terras canadenses
Um dos agentes secretos mais renomados da cultura pop, James Bond é uma figura emblemática e cheia de encanto, conhecida por suas missões secretas repletas de apetrechos lendários e suas Bond Girls. Todavia, em 2015, ele entrou para o domínio público, mas com uma ressalva: somente no Canadá.
Isso quer dizer que, se você for um cidadão canadense ou estiver interessado em publicar sua obra no Canadá, está livre para explorar James Bond e sua mitologia, focando exclusivamente nos elementos criados por Ian Fleming em seus livros. Qualquer detalhe proveniente das adaptações cinematográficas é vedado, visto que o personagem ainda está sob a proteção das leis de direitos autorais nos Estados Unidos e na Europa.
O Encantador Universo do Ursinho Pooh
Uma das adições mais recentes à lista de personagens em domínio público, o Ursinho Pooh já encantou muitos graças às suas adaptações da Disney, e é conhecido por habitar o Bosque dos Cem Acres ao lado de diversos outros animais antropomórficos, alguns deles outros brinquedos e pelúcias de Christopher Robin.
Atualmente, é possível fazer histórias e adaptações do personagem e de seus amigos, mas vale lembrar, é preciso usar a versão original do autor A.A. Milne, então Pooh não pode ter sua camiseta vermelha, já que isso é uma criação da Disney. Além disso, o Tigrão também ainda não e.
A Origem do Tarzan e Suas Possibilidades Narrativas
Muito antes da Disney trazer sua própria interpretação da saga do menino órfão criado por animais selvagens, o Tarzan já fazia parte do universo literário desde 1912, quando foi concebido por Edgar Rice Burroughs em uma série de livros e contos pulp. O personagem entrou em domínio público oficialmente em 2019, abrindo as portas para a criação de novas histórias envolvendo a figura icônica de Tarzan.
No entanto, é importante ressaltar que o Tarzan retratado nas obras originais de Burroughs – e que agora está em domínio público – apresenta nuances diferentes de suas representações cinematográficas. Em vez de ser um indivíduo rude e carente de habilidades sociais, o Tarzan original era refinado, gracioso e sempre perspicaz, tornando-o uma figura complexa e cativante para explorar em novas narrativas.
Com a liberdade criativa proporcionada pelo domínio público, escritores e artistas têm a chance de reinventar o mito de Tarzan, explorando novos aspectos de sua personalidade e aventuras. Desde ambientações alternativas até abordagens mais aprofundadas de sua psique, as possibilidades narrativas em torno do lendário homem macaco são vastas e promissoras.
Assim, inspirados pelo legado deixado por Burroughs e incentivados pela liberdade criativa adquirida, criadores de conteúdo de diversas mídias podem explorar os aspectos menos explorados de Tarzan, revelando facetas inéditas de seu caráter e conduzindo o público a novas e emocionantes jornadas pela selva.
Alice no País das Maravilhas: Uma Aventura Inspirada na Obra de Lewis Carroll
Uma das obras mais marcantes da Disney é Alice no País das Maravilhas, filme de 1951 baseado no célebre livro de Lewis Carroll, publicado pela primeira vez em 1865. O legado deixado pelo autor, que veio a falecer em 1898, garante que sua obra tenha entrado em domínio público, permitindo que novas histórias floresçam em torno de Alice, Chapeleiro Louco, Coelho Branco e tantos outros personagens icônicos.
Enquanto o mundo pode se encantar com o clássico original de Carroll, a liberdade de explorar as terras fantásticas do País das Maravilhas é dada a todos que desejam se aventurar em novas narrativas. Entretanto, é fundamental respeitar a essência dos personagens criados por Carroll, garantindo que suas representações sejam fiéis às originais e não meras adaptações modernas.
Assim, a magia de Alice e seus amigos pode continuar a inspirar gerações, mantendo viva a imaginação e a criatividade que tornaram o País das Maravilhas um lugar tão especial. A liberdade concedida pelo domínio público permite que novas histórias sejam contadas, novas aventuras sejam vividas, sempre mantendo a essência mágica e atemporal que tornou a obra de Carroll um clássico amado por tantos.
Explorando o Mundo Maravilhoso de Oz
Escrito pela primeira vez em maio de 1900, O Maravilhoso Mágico de Oz é uma das obras mais renomadas de L. Frank Baum, recebendo diversas interpretações não apenas nas telas de cinema, mas também na televisão e no teatro. Por sorte, graças às leis dos Estados Unidos, o universo encantado criado por Baum pode ser revisitado por qualquer pessoa, uma vez que está em domínio público.
Uma curiosidade interessante é que várias das imagens mais icônicas da obra são herança da adaptação de 1939, estrelada por Judy Garland, entretanto, esta ainda está protegida pelos direitos autorais. Por isso, é possível se inspirar para criar uma história envolvendo a Bruxa Má do Oeste, mas é importante respeitar as restrições legais, visto que a personagem não pode ser retratada com a cor verde, característica que surgiu somente na adaptação cinematográfica.
O Legado do Zorro no Domínio Público
Criado em 1919 na revista pulp All-Story Weekly, o Zorro se tornou um verdadeiro marco na cultura pop, ganhando dezenas de interpretações ao longo dos anos, com a mais conhecida tendo sido o filme estrelado por Antonio Banderas em 1998. No entanto, o personagem já faz parte do domínio público desde 1995.
Um caso curioso envolveu a Sony, produtora do filme de Banderas, que em 2001 tentou processar outro estúdio por quebra de direitos autorais, já que o concorrente faria uma adaptação do Zorro. Porém, como foi provado, o personagem já podia ser usado em quaisquer mídias.
A Lenda de King Kong: Da Origem à Atualidade
Conhecido como a “oitava maravilha do mundo”, King Kong foi criado em 1933 para um filme homônimo da RKO Pictures. Desde então, ele conquistou o coração do público, evoluindo de vilão a um herói trágico em interpretações mais recentes, como o longa-metragem de Peter Jackson ou o épico Godzilla vs. Kong.
O que muitos desconhecem é que o personagem é considerado domínio público. Curiosamente, essa condição se deve a uma novelização do filme de 1933, lançada antes mesmo de sua estreia nos cinemas. Embora os direitos autorais do filme permaneçam intactos, vários detalhes sobre a origem de King Kong já estavam presentes na novelização, permitindo o uso desses elementos por qualquer pessoa.
A Influência de Cthulhu na Literatura Contemporânea
Em meio às sombras do horror cósmico, surge Cthulhu, a figura central dos mitos de H.P. Lovecraft, renomado como o pai desse gênero aterrador. Criado em 1926, Cthulhu tornou-se uma entidade tão poderosa que inspirou uma miríade de obras derivadas, expandindo o universo sombrio concebido por seu criador.
Embora Lovecraft tenha sido reconhecido pela genialidade de suas mitologias, não se pode ignorar os seus posicionamentos racistas e eugenistas, que lançam uma sombra perturbadora sobre sua obra. Apesar disso, sua criação de Cthulhu permanece como uma fonte inesgotável de inspiração para escritores contemporâneos, que se desafiam a abordar não apenas a divindade cósmica, mas também a confrontar o legado problemático deixado por Lovecraft.
Hoje, autores hábeis não se limitam a explorar as entidades criadas por Lovecraft, como Cthulhu, mas também se dedicam a questionar o racismo enraizado no trabalho do autor. Obras como Território Lovecraft, de Matt Ruff, e A Balada de Black Tom, de Victor LaValle, brilham ao abordar não apenas o terror do desconhecido, mas também as questões morais e éticas que permeiam a obra de Lovecraft.
Assim, Cthulhu permanece como um ícone do horror cósmico, transcendendo as páginas originais de Lovecraft para se tornar uma força motivadora para reflexões mais profundas sobre os desafios da literatura contemporânea. Em um mundo onde as trevas ameaçam engolfar a razão, Cthulhu continua a despertar o temor e a curiosidade dos leitores, desafiando-os a confrontar não apenas o desconhecido, mas também o mal que reside nas profundezas da alma humana.
Jornalista cinéfilo e viciado em filmes e séries, mergulhando de cabeça no mundo geek. Com críticas cativantes e análises perspicazes, compartilha sua paixão e conhecimento, tornando a cultura pop mais envolvente.